Morre aos 91 anos Samuel Klein, fundador das Casas Bahia

 

O empresário Samuel Klein, fundador das Casa Bahia, faleceu na madrugada desta quinta-feira, 20, em São Paulo, devido a insuficiência respiratória. Klein estava com 91 anos de idade. Ele deixa três filhos, oito netos e cinco bisnetos. O velório ocorre no cemitério israelita do Butantã, em cerimônia reservada para família e amigos.

 

A Via Varejo, controladora da Casas Bahia, divulgou nota na qual expressou seus sentimentos de pesar e agradeceu o empresário por sua contribuição ao País. “A melhor forma de honrarmos seu legado empreendedor é continuarmos crescendo e realizando os sonhos de nossos clientes e colaboradores”.

 

Perfil

  

Polonês naturalizado brasileiro, Samuel Klein nasceu em Lublin, na Polônia, como o terceiro de nove irmãos, filho de um carpinteiro de família judaica. Começou a trabalhar com o tio como marceneiro até a invasão dos nazistas, quando foi levado para Maidanek com o pai. Maidanek era o terceiro maior campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

Klein foi com o pai para Maidanek, enquanto a mãe e os irmãos foram para Treblinka. Foi levado junto com outros prisioneiros para Auschwitz em 1944, após a libertação da Polônia. Caminharam 50 quilômetros a pé até o rio Vístula (maior rio da Polônia).

 

Fugiu dos soldados numa tentativa ousada no dia 22 de Julho. Suas palavras: “Fui me escondendo e entrando no trigal cada vez mais. Não sei para onde estava indo, mas tinha a certeza de me afastar do grupo.” Passou a noite na plantação. Ao acordar, encontrou-se com poloneses cristãos também fugidos, que o acolheram e ajudaram a fugir.

Samuel chegou a voltar para sua antiga casa, que estava totalmente arrasada. Trabalhou numa pequena fazenda nas proximidades em troca de comida. Com o fim da guerra, encontrou-se com a irmã Sezia e o irmão Salomon.

 

Depois da guerra, os irmãos Klein foram para a Alemanha administrada pelos norte-americanos. Conseguiram reencontrar vivo o pai. Viveram em Munique de 1946 até 1951. Nesta grande cidade alemã, Samuel conheceu Chana, com quem se casou. Sentiram que era hora de deixar a Europa e reconstruir a vida em outro lugar.

 

O pai foi para Israel, junto com a outra irmã Esther. Samuel queria emigrar para os Estados Unidos, mas não conseguiu. A cota de emigração estava cheia. Decidiu ir para a América do Sul, onde tinha alguns amigos. Conseguiu visto para a desconhecida Bolívia e lá chegou com a esposa e o filho.

Em 1952 a Bolívia vivia uma situação social muito complicada, com disputas políticas violentas e uma revolução em curso. Klein recordou-se de uma tia que vivia no Rio de Janeiro. Com a mulher e o filho embarcou no primeiro avião de La Pazpara a então capital brasileira. Em menos de dois meses conseguiu autorização para viver no Brasil.

 

Estabeleceu-se em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo com a família. Foi quando começou a trabalhar como comerciante. Tornou-se mascate, vendendo roupas de cama, mesa e banho de porta em porta, com uma charrete. Em cinco anos de dedicado trabalho, conseguiu capital para comprar uma loja chamada Casa Bahia, em 1957. Era a sua homenagem a seus fregueses, na maioria retirantes baianos vindo tentar a sorte na região.

Em 1964, a loja começa a vender eletrodomésticos. Seis anos depois, o Bahianinho, o mascote que até hoje é o símbolo da Casas Bahia, foi criado. Junto com ele surgiu o slogan “Dedicação total a você”.

 

Samuel Klein é considerado por muitos o rei do varejo. Ele também foi o primeiro a vislumbrar o poder de compra dos mais pobres, fornecendo crédito aos que não conseguiam comprovar renda. “Compro por 100 e vendo por 200, tudo parcelado”, costumava dizer ele, o segredo de seu sucesso como empresário.

 

A Casas Bahia, com o tempo, foi ganhando musculatura. Em 1989, já  contava com 100 lojas. Nos anos 2000, tornou-se a maior rede de varejo do Brasil, sobrevivendo ao furacão que varreu do mapa os principais varejistas do Brasil.

Por esse motivo, a Casas Bahia transformou-se no símbolo de resistência de um setor que viu antigos ícones como Mappin, Mesbla, G. Aronson e Casa Centro desmoronarem da noite para o dia.

 

Mas foi também no fim da primeira década dos anos 2000 que marca uma virada na estratégia da companhia. Em 2009, o controle da Casas Bahia é vendido para o grupo Pão de Açúcar, naquela época controlado com mão de ferro pelo empresário Abilio Diniz.

Ela iria se unir ao Ponto Frio, seu arquirrival, comprado seis meses antes pelo Pão de Açúcar, dando origem ao maior grupo de varejo do Brasil.

 

O casamento, no entanto, foi tumultuado desde o início, com ameaças de rompimento de ambas as partes, logo depois do contrato assinado.

Mas depois de acertarem suas divergências, surge a Via Varejo, que combina as operações de Casas Bahia e Ponto Frio. Raphael Klein, neto de Samuel, foi seu primeiro presidente.

 

A família Klein, atualmente, é minoritária na Via Varejo. Em uma operação de venda de ações, eles ficaram com apenas 27,3% das ações. Michael, filho de Samuel, que comandava o conselho de administração da Via Varejo deixou o posto e mantém duas cadeiras no colegiado. 

 

Fonte: IstoÉ Dinheiro

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