Depois de virar sócia da empresa de inovação Distrito no ano passado, a Via Varejo, dona da Casas Bahia e do Ponto Frio, está colocando em prática o projeto de se conectar com startups. A varejista lança nesta quinta-feira, 11, o programa de inovação aberta Via Next, que buscará empresas de tecnologia para ajudar a turbinar o seu negócio.
O programa, que conta com a parceria da Distrito, será permanente: só em 2021, a meta da varejista é se conectar com mais de 100 startups. “Estamos organizando a conexão com startups para que seja um processo mais acelerado. Receberemos inscrições e também usaremos a base de dados da Distrito com mapeamento das startups do Brasil para acessar empresas que se alinhem com a gente”, afirma ao Estadão Roberto Fulcherberguer, presidente executivo da Via Varejo.
A conexão com as startups se dará por meio de contratação dos serviços, podendo chegar a investimento ou aquisição — desde o começo do ano, com a ajuda da Distrito, a Via Varejo já começou o estágio de contratação de cerca de 20 startups. Em 2020, a varejista já havia dado início à relação com startups adquirindo as empresas AsapLog, do ramo de entregas, o serviço de conta digital BanQi e a startup de comércio eletrônico I9XP.
Segundo Fulcherberguer, não há meta definida para aquisições. “Estamos abertos para qualquer opção, dependendo do interesse do fundador da startup”, diz.
A Via Varejo tem hoje uma equipe de 20 pessoas dedicadas ao Via Next, responsáveis pela organização do programa. Parte importante desse trabalho é a busca das startups: “Queremos trazer velocidade e assertividade na conexão. Não dependemos das startups se inscreverem. Por meio dos dados do ecossistema, conseguimos fazer a caça de startups de diferentes tamanhos e perfis, seja lá onde elas estiverem”, diz Gustavo Araujo, presidente executivo da Distrito.
Além do varejo
Neste primeiro momento, a Via Varejo busca soluções principalmente nas áreas de e-commerce, experiência em loja, logística e serviços financeiros.
Fulcherberguer, porém, afirma que o escopo não ficará limitado ao universo do varejo. As possibilidades imaginadas por ele são surpreendentes, incluindo até uma suposta incursão pelo mercado de “healthtechs”, startups do setor de saúde: “Estaremos de olho em coisas que não são óbvias. O consumidor está orbitando no nosso ecossistema, então podemos usar esse canal de relacionamento para transacionar turismo com ele, resolver problemas que ele tenha com o plano de saúde ou até ser a operadora de saúde”, diz o presidente da companhia. “Queremos dar uma jornada completa para o consumidor”.
É uma clara aposta no modelo de “superapp” — popular na China, o formato define aplicativos que oferecem uma ampla gama de serviços em diferentes segmentos. No Brasil, nomes como o Rappi miram o modelo.
Mais importante: as iniciativas tentam posicionar a Via Varejo na corrida tecnológica do varejo, que é cada vez mais disputada no Brasil tanto por rivais locais, como o Magazine Luiza, quanto por gigantes globais da tecnologia, como Amazon e Alibaba.
Só a rival nacional realizou 11 aquisições estratégicas em 2020. Foram compradas pela Magalu, entre outras, a Estante Virtual, de venda de livros novos e usados, a startup de delivery de alimentos AiQFome, a Hubsales, que conecta fabricantes ao consumidor final, a Stoq, de tecnologia para PDV, a plataforma de mídia da Inloco, o site de conteúdo de tecnologia Canaltech, a escola de marketing Digital ComSchool e a fintech Hub.
Para o presidente da Via Varejo, a força da empresa nessa disputa está na estrutura por trás do digital, como os 20 mil vendedores da companhia que, além das lojas físicas, passaram a ajudar no atendimento online. “Não temos dúvida de que nosso grande diferencial está em agregar serviços junto com a tecnologia”, afirma. “Não é que estamos entrando no jogo agora. Nós já entramos no jogo e estamos caminhando para ganhar”.