Uma semana depois de anunciar a criação da 28ª feira especial para ambulantes em Goiânia, a Prefeitura agora diz que ela só será disponibilizada após a retirada de todos os ambulantes da Rua 44 e entorno, no Setor Norte Ferroviário. Entretanto, só pouco mais de 500 dos 2,5 mil vendedores informais que se instalaram na região estão cadastrados para serem instalados nesta nova feira, que – conforme O POPULAR informou na edição de domingo – não devem ficar mais nas ruas anunciadas pela Prefeitura na semana passada – a 69 e a 69-A, no mesmo bairro.
Apesar de os ambulantes da Rua 44 estarem no local há anos sem que o poder público conseguisse removê-los, o secretário de Trabalho, Indústria, Comércio e Serviços, Giovanny Bueno, garantiu ontem aos representantes da Associação Comercial e Industrial do Norte Ferroviário (ACINF) que a retirada dos camelôs da área deve ter início em agosto.
Para isso, a Prefeitura vai criar um batalhão da Guarda Civil Metropolitana (GCM) específico para impedir a ocupação das ruas do Norte Ferroviário por ambulantes. Esse grupo vai atuar 24 horas. “Porque fiscalização tem, mas fica nesse vai e vem, a gente tira, eles retornam”, comentou Bueno.
A base legal para a Guarda Civil atuar na fiscalização já existe: o decreto 4.968, de 28 de novembro de 2013, que regulamenta o apoio da guarda à fiscalização de ambulantes nas ruas, autorizando a autuação e apreensão de mercadoria irregular. O batalhão especial será formado por 60 guardas que passaram por treinamento na Secretaria Municipal de Fiscalização de Goiânia (Sefis).
Todavia, afirma o secretário, a Prefeitura não tem recurso para manter um grupo especial para fiscalizar exclusivamente a Rua 44, precisa do apoio financeiro dos empresários. “Hoje, dependemos de estrutura, da doação de três viaturas e do pagamento de hora extra”, concorda o comandante da GCM, Elton Magalhães. O porta-voz dos lojistas, Cristiano Cruvinel Câmara, confirmou que o grupo está disposto a ajudar no que for preciso desde que a Prefeitura garanta que esse contingente de guardas impeça o retorno dos ambulantes.
A proposta do secretário e do comandante da GCM é que os guardas metropolitanos trabalhem na fiscalização durante as folgas e que o excedente do salário seja pago pelos empresários da região. De acordo com o comandante da GCM, resolvida a questão financeira, o batalhão pode estar na rua na próxima semana. “E em uma ou duas semanas é possível esvaziar a rua”, garante o secretário.
Segundo Bueno, se a Prefeitura “limpar” a região, os empresários se comprometeram a auxiliar na manutenção do batalhão especial. A fiscalização também é a principal preocupação dos feirantes da Feira Hippie. Eles temem que se crie uma nova feira e os ambulantes permaneçam na Rua 44 como estão hoje, todos os dias da semana, prejudicando os comercio dos feirantes no fim de semana.
Na reunião com o secretário, os empresários disseram que fazem questão de participar da definição do local da nova feira, já que não concordam com o espaço definido pela Prefeitura, as Ruas 69 e 69-A. Em ofício endereçado ao prefeito Paulo Garcia, os donos das galerias e shoppings do Norte Ferroviário argumentam que a realização da feira nas ruas definidas prejudica três estacionamentos e dois hotéis e é inviável tecnicamente. “De acordo com eles, não é possível esvaziar a rua em tempo hábil para abrir e fechar o comércio formal”, disse Bueno.
Os empresários sugeriram três outros pontos: a Quadra R da Feira Hippie, permanecer na própria Rua 44 e o segmento dela, após a Avenida do Contorno, no trecho que dá acesso à Marginal Botafogo. As duas primeiras alternativas foram descartadas pelo secretário, que se comprometeu com os feirantes da Feira Hippie a não ocupar área da feira e ele avalia que, na Rua 44, as bancas vão atrapalhar o trânsito e o tráfego de ônibus. A terceira alternativa ele deve avaliar ainda hoje.
Além de retirar os ambulantes, o secretário pretende organizar as lojas do setor. A partir de quinta-feira, agentes da Secretaria de Trabalho, Indústria, Comércio e Serviços vão visitar os lojistas e orientar sobre a documentação necessária para funcionamento, alvará, licença do Corpo de Bombeiro, sanitária.
Modelo de escolha de feirantes é questionado
Esse critério não é o ideal, observa o promotor Fernando Krebs. Na opinião do promotor, o critério teria que ser socioeconômico. “E teria que dar oportunidade a todos que tivessem interesse em ter uma banca.” Ele defende que os espaços públicos sejam cedidos mediante licitação, inclusive as bancas de feiras.
O presidente do Sindilojas, José Carlos Palma Ribeiro, também é contra o modelo de distribuição de bancas adotado pela Prefeitura. “Mais gente que precisa deve ser incluída e não pode simplesmente ser excluída porque não fez um cadastro em determinado momento.” Todavia, ele não acredita que todos os que hoje estão na Rua 44 sejam ambulantes. Muitos, afirma, são lojistas e feirantes que querem garantir uma banca nova.
Feira da polêmica
Lojistas exigem retirada de ambulantes para apoiar criação da nova feira e vendedores da Feira Hippie sugerem que camelôs ocupem bancas ociosas
14 de julho – Prefeitura de Goiânia autoriza a criação da Feira da Madrugada, prevista para ser realizada nas terças e quartas-feiras, das 21 horas às 6 horas da manhã nas ruas 69 e 69-A, no Setor Norte Ferroviário.
15 de julho – Lojistas da região se reuniram para discutir a criação da nova feira e discordam do local escolhido.
16 de julho – A Associação dos Feirantes da Feira Hippie se reúne com o secretário de Trabalho, Indústria e Serviços, Giovanny Bueno. Eles são contra a criação de uma nova feira, uma vez que existe mais de mil bancas ociosas na Feira Hippie.
21 de julho – Lojistas se reúnem com secretário Giovanny Bueno e apresentam três alternativas de local para a feira da madruga e se dispõem a co-financiar um batalhão da Guarda Civil para retirar ambulante da Rua 44.