Índices recordes de consumo, chuvas mantendo-se abaixo da média histórica, níveis dos reservatórios despencando. A associação desses três fatores vem tornando cada vez mais crítica a situação do sistema elétrico brasileiro. E a situação de Goiás não é diferente.
De acordo com Celg Distribuidora (Celg D), o consumo de energia apresentou picos elevados na segunda-feira, minutos antes do apagão que atingiu dez Estados brasileiros e o Distrito Federal. O consumo chegou a 2.060 MW, por volta de 14h58. Embora esse não seja um recorde para o Estado – que já registrou até 2.380 MW em outubro do ano passado – o número é considerado elevado para a época do ano.
Nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) registrou recorde na demanda de carga energética, atingindo 51.596 megawatts (MW), maior que os 51.295 MW registrados no dia 13 de janeiro.
O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, disse, contudo, que o corte de energia não ocorreu em razão do recorde de consumo. Segundo ele, um motivo ainda desconhecido provocou a queda da frequência com que giram as turbinas das usinas do sistema brasileiro e que culminou no desligamento automático de parte das térmicas no Sudeste do País.
Em Goiás, assim como na maior parte do Brasil, de acordo com o presidente da Celg D, Leonardo Lins, o consumo de energia elétrica tem sido alto, especialmente por volta das 15 horas, devido às altas temperaturas. Segundo ele, o apagão de segunda-feira atingiu Goiânia e outras 34 cidades do interior, que ficaram parcialmente sem energia.
RESERVATÓRIOS
Ao mesmo tempo, os níveis dos reservatórios em Goiás têm apresentado números preocupantes. Os reservatórios de Itumbiara e Emborcação estão entre os que registram os índices mais baixos, se comparados ao mesmo período de 2014. O primeiro está apenas com 11% de sua capacidade preenchida, enquanto em janeiro do ano passado estava com 33%. Já Emborcação, por sua vez, conta com apenas 14% de sua capacidade de reserva cheia, frente aos 39%, há exatos 12 meses.
De acordo com o especialista em Engenharia Elétrica Augusto Fleury, os níveis dos reservatórios em todo o Brasil são preocupantes e a tendência é que a situação só piore, caso os próximos meses não sejam mais generosos quanto à incidência de chuvas. Com relação ao Estado de Goiás, no entanto, o problema pode ser um pouco mais crítico, uma vez que boa parte dos reservatórios abastece a usina de Itaipu.
“Todo o sistema elétrico de nosso País é interligado e a produção de energia como um todo vai sofrer graves consequências caso as chuvas não regularizem. Mas, com relação à Itaipu, não há como negar que o impacto vai ser drástico, já que essa é considerada a usina mais importante em geração de energia no Brasil”,disse Fleury.
Conforme o especialista, há dois anos as chuvas são insuficientes para encher os reservatórios das hidrelétricas. Ele ressalta que esse fator tem sobrecarregado outras formas de geração de energia, como as usinas térmicas, aeólicas e de biomassa, que são muito mais dispendiosas para o País.
USO CONSCIENTE
Para o presidente da Celg D, Leonardo Lins, o alto consumo de energia e o apagão no início da semana são sinais suficientes de que o consumo da energia elétrica precisa ser feito de forma racional. Segundo ele, o ideal é que as pessoas repensem a forma que estão usando energia em casa, mesmo diante do calor, especialmente agora que o País está dependendo das termoelétricas, como ressaltou Fleury.
“O consumo de energia elétrica sempre precisou ser consciente. Mas é possível que a relação que o consumidor tem com a energia elétrica mude, agora que as tarifas vão aumentar bastante”, alertou Lins.
Com relação à possibilidade de racionamento de energia, entretanto, o presidente da Celg D acredita que não seja o caso de uma medida tão radical. Conforme ele, como a interrupção foi puramente técnica, não há previsão de que o governo restrinja o acesso da população a cotas de consumo elétrico.
Também para o professor Augusto Fleury, o momento não é de racionamento, uma vez que os recursos no País estão escassos. No entanto, o especialista acredita que essa medida só comece a ser considerada se as chuvas forem insuficientes, pelo terceiro ano consecutivo, para regularizar o nível dos reservatórios.
Dilma cobra respostados responsáveis
No Palácio do Planalto, foi considerado “absurdo” o silêncio do ministro Eduardo Braga e outros representantes do setor em relação à falta de energia. “Foram horas sem qualquer satisfação à população. As pessoas merecem e precisam saber o que aconteceu e o que estava acontecendo”, disse um auxiliar presidencial.
A entrevista do ministro ocorreu apenas às 20 horas de ontem, após a nota do Operador Nacional do Sistema (ONS) ter sido considerada “pífia”. Hoje, mais uma vez, houve demora nas explicações. Dilma foi informada que havia energia suficiente em Itaipu que poderia ter sido acionada para evitar o apagão. “Não há preocupação com limite de gasto de energia”, disse o assessor. Mesmo com pico de consumo, há geração suficiente, entende Dilma. “
Ministro anuncia ‘reforço’ de 1,5 mil MW
“Deus é brasileiro e temos que contar que ele vai trazer um pouco de umidade e chuva”, disse Braga, repetindo o ex-ministro Edison Lobão, que, no ano passado, afirmou que o País não passaria por um racionamento de energia “com a graça de Deus”. O apagão da última segunda-feira atingiu 10 Estados, além do Distrito Federal. “Se não houvesse imprevistos não teríamos desafios”, disse.
PREPARADO
Braga garantiu que o sistema está preparado para atender a picos de demanda de energia em todas as regiões do País. Ele anunciou um reforço na produção da usina de Itaipu, que vai gerar 300 MW adicionais, e o aumento da transferência de energia da Região Nordeste para o Sudeste/Centro-Oeste, que vai acrescentar 400 MW ao sistema.
Disse que o religamento da usina de Angra 1 proporcionará um adicional entre 100 MW e 200 MW. Além disso, parte das usinas térmicas da Petrobras voltará a produzir energia após um período de manutenção preventiva. Essas usinas vão acrescentar 867 MW ao sistema e começam a retomar a produção a partir de 20 de janeiro.
INÍCIO
O ministro explicou que o apagão começou após um problema na linha de transmissão Norte-Sul. Uma falha no capacitor dessa linha aconteceu há alguns dias, mas seus efeitos tiveram consequências apenas nesta semana. Isso, disse, provocou uma queda da energia na usina Governador Ney Braga, de 1.260 MW, da Copel. “Não é possível dizer ainda se foi falha humana ou técnica, mas já se sabe que a atuação do equipamento de proteção de potência da usina foi indevida”, afirmou.
Assim, outras usinas também foram desconectadas de forma automática, devido a falhas em equipamentos e sistemas de proteção. “Repito: o que aconteceu na segunda-feira não foi desligamento por falta de geração”, afirmou. “Neste momento, o sistema está funcionando sem nenhuma intercorrência.”